21
jul

[Resenha] A Biblioteca dos Sonhos de Michiko Aoyama


 





A Biblioteca dos Sonhos 
Autor:
 
Michiko Aoyama
Editora: Arqueiro 
Páginas: 304
Gênero: ficção
Classificação:


Sinopse:

Sucesso de vendas no Japão.
Uma história sobre a magia dos livros e seu poder de conectar pessoas.
O que você procura?
Essa é a pergunta que a enigmática Sayuri Komachi faz a quem visita a biblioteca do Centro Comunitário de Tóquio em busca de ajuda.    A lista de livros que ela recomenda sempre contém um título inusitado que se torna o agente de uma mudança.    Em cinco histórias independentes que se entrelaçam de maneira sutil, você conhecerá pessoas que estão em momentos diferentes da vida, lidando com situações como a frustração no trabalho, a falta de oportunidades, o medo do fracasso e a vontade de começar de novo.    A Sra. Komachi tem o dom de saber exatamente de qual livro cada visitante precisa para mudar de perspectiva e voltar a alimentar seus sonhos.
Às vezes, as mudanças mais transformadoras não são as mais grandiosas: são aquelas que nos fazem ver a vida - e suas infinitas possibilidades – de uma maneira inteiramente nova.
E você? O que está procurando?


Olá, pessoa! Existe algo irresistível em livros que falam de livros, mas certamente o fato de estarmos recebendo em nosso mercado editorial mais livros orientais e é impossível não querer conhecer o tão distante mundo, através das páginas dos livros. E foi assim, que me vi com a biblioteca dos sonhos secretos, como minha próxima leitura.

Caso, seja sua primeira experiencia, aviso que é bem comum a estrutura desse livro, de histórias curtas que se entrelaçam na trama e quando parecem ser totalmente independentes na realidade começam a revelar o que as une e agrega formando o todo da obra.

O que você procura? Me lembrou muito o Chesire de Alice no País das Maravilhas, dizendo que se não sabemos aonde queremos ir, qualquer caminho nos serve. Então, a cada vez que essa pergunta era feita, eu imaginava que a pessoa precisava desse primeiro passo, saber o que estava procurando, para conseguir enfim entender sua própria busca. E assim, nós também nos víamos começando a entender o livro, ao acompanhar a resposta de cada personagem a essa pergunta, fatídica.

“– Dizem que um objeto feito à mão já tem seu destinatário definido desde o momento em que está sendo criado. Soa meio místico, mas me parece verdade.”

Na primeira história, vamos conhecer: Tomoka, 21 anos, vendedora de roupas femininas. Adorei a história dela ser um chamado a um segundo olhar, não apenas para si, mas a sua volta e ao que víamos enquanto crianças e como vemos o mundo agora. Que cada pessoa olha para o mesmo objeto vendo e sentindo coisas completamente diferentes e nenhuma invalida a outra.

Sobre a importância do que fazemos estar em como afeta a vida das outras pessoas e não na execução da tarefa e principalmente que se continuamos a repetir as mesmas ações nunca encontraremos um resultado diferente.
“– A vida é sempre uma grande aventura! Não importa em que situação você esteja, as coisas não caminham como previsto! Mas, por outro lado, também nos esperam surpresas alegres.”
A seguir, Ryo, 35 anos, contador em uma fábrica de móveis, tem muitos sonhos mais ao invés de construir pontes, controle muros e o que será um dia nunca chega a ser hoje ou amanhã. Infelizmente não é tão incomum vermos pessoas protelando a vida por acreditar que para começar algo é preciso ter tudo perfeito primeiro ou que logo vai acontecer quando estiver de uma determinada maneira, ainda se conta com algo que é o mais incerto que é estar vivo num futuro próximo ou mesmo até o momento seguinte.

Gostei muito desse conto explicar um pouco da mística do processo de seleção dos livros, afinal existe sim algo mágico se indicar a alguém o livro que será perfeito para ela de alguma forma. Todo mundo que lê sabe como é ou deveria poder sentir essa sensação.
“Quem é solteiro inveja as pessoas casadas, quem é casado inveja quem tem filhos, e quem tem filhos inveja quem é solteiro. Um carrossel que não cessa de girar. É interessante que cada um inveje apenas quem está na sua frente. Em outras palavras, na felicidade não existe superioridade, inferioridade ou completude!”
A terceira história é de Natsumi, 40 anos, ex-editora de revistas que se vê as voltas com a maternidade, a velha rotina tripla conhecida de praticamente todas as mulheres e o que representa ser mãe durante a escalada profissional em uma sociedade que privilegia quem é homem. As dores e as alegrias da maternidade, os complexos e a eterna culpa são brilhantemente retratados sem necessidade de muitas palavras pois cada cena acaba por ser todo um discurso enquanto ilustra a história e lemos a vida de Natsumi.

Talvez por isso esse conto ganhe para mim contornos tão próximos e seja impossível não ter empatia por seus conflitos, dilemas e sonhos e principalmente as descobertas desse universo tão único que é o ser mãe e o quanto a dualidade faz parte do que nos faz inteiros.
“O que você acha insuficiente ou excessivo pode se tornar o oposto quando o ambiente muda.”
Então, é a vez de Hiroya, 30 anos, desempregado e se vê as voltas com o tempo, quando o marco do ano em que quando crianças achamos que teríamos conquistado o mundo e todos os sonhos mais doces seriam reais. Porém, ao chegar e ver que a vida não seguiu aquele roteiro o desanimo e apatia tomam conta impedido de ver que não se deve medir o sucesso dessa forma.

Hiroya, é uma pessoa estacionada e começa a perceber que a importância aos marcos são as que damos a eles, o etarismo é algo que não deve existir e sim uma determinação em aproveitar a vida enquanto exista a vida. Nunca é tarde mais para começar e o único momento precioso que perdemos é o que deixamos de usar. Sei que escrito assim pode parecer algo de autoajuda ou motivacional, mas longe disso, a escrita constrói esse aprendizado de forma muito interessante e que me arrancou gargalhadas em alguns momentos.
“Então, de repente, toda a crença que construíra sobre mim mesmo se desintegrou. Eu me fazia de vítima e culpava um mundo que não me aceitava, mas, no fundo, eu nunca quis fazer nada grandioso. Só queria tocar o coração das pessoas.”
E por fim, na quinta história temos Masao, 65 anos, aposentado e um pensamento, cheguei a um período da vida que parece me fazer esperar pelo fim, e agora o que me aguarda? Voltar o olhar ao passado é inevitável, mas não deixar de imaginar que existe toda uma vida pela frente é maravilhoso. Sendo assim, a expectativa para ida desse senhor a biblioteca se avoluma e a o mesmo tempo, começa a saudade desse lugar tão especial.

E é encantador ver pessoas tão diferentes, terem suas vidas mudadas por mais que um livro e como a premissa do mágico de Oz continua tão real e verdadeira. Eu sinceramente amei o final com a autora entregando tudo que eu esperava desde a primeira história. Contudo preciso dizer que a gordofobia para com a Sra. Komachi pra mim foi imperdoável, digo isso por se repetir em todas as histórias e ela ser julgada primeiro por seu corpo e depois por todo resto, sem falar na comparação com funcionárias mais jovens. Pode até ser uma questão simbólica ou tudo mais, porém para mim soou desnecessário de extremo mal gosto. Fora a isso eu amei a história e sinceramente adoraria passar mais algum tempo nessa biblioteca tão mágica.

A edição é maravilhosa com extras como: livros reais citados e outras notas ótimas, tradução deliciosa, sem erros de português ou digitação e uma diagramação que torna a leitura ainda mais fluida. Boa leitura e divirta-se!

Resenhado por @efinco do Clube do Farol

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